quarta-feira, 21 de julho de 2010

Maiwu realiza curso de formação de gestores indígenas em Mato Grosso

Com objetivo de iniciar a formação política e técnica de gestores indígenas, visando a melhoria da qualidade de vida das comunidades e o fortalecimento do movimento e das organizações indígenas, o Instituto Maiwu está desenvolvendo o Curso de Formação de Gestores e Gestoras Indígenas do Mato Grosso. Seu início foi em janeiro deste ano e se estende até o mês de novembro.

O presidente do Instituto Maiwu, Audecir Arara, explica que a realização do curso era uma proposta antiga da entidade, mas que só foi possível com o apoio do Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas (PDPI), ligado a Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Também foram fundamentais parcerias com a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e a Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (SEDUC).

Estruturado em cinco módulos presenciais, o curso conta com a participação de 27 lideranças indígenas escolhidos por suas comunidades e associações, representantes dos povos: Apiaká, Arara, Bakairi, Bororo, Guató, Chiquitano, Cinta Larga, Ikipeng, Kayabi, Karajá, Panará, Rikbaktsa, Tapajuna, Tapirapé, Umutina, Xavante, Yawalapiti, Zoró.

Para Audecir Arara, o curso é uma forma de capacitar os indígenas para elaborar e gerenciar projetos bem como suas próprias associações. “Nós pensamos no curso para que os indígenas possam propor projetos para sua comunidade mas também gerenciar suas organizações”, explica. “A gente visitará comunidades para ver como está na prática a aplicação do curso e ajudar no que for possível”, complementa.

Formação de gestores é uma necessidade para comunidades indígenas

Para Audecir Arara, presidente do Instituto Maiwu, existem muitos editais e fontes de financiamento disponíveis para ajudar as comunidades, inclusive as indígenas, porém, o que falta são cursos de formação e fazer com que essas informações cheguem nas aldeias. “Existem muitos projetos, mas nem sempre as comunidades vêem os editais por falta de acesso a informação”, explica. “O Maiwu quer fortalecer a nossa rede de contato para repassar melhor e mais informações às comunidades”, esclarece.

Vários povos já desenvolvem projetos em suas comunidades através das associações e parcerias com organizações indigenistas e órgãos governamentais (como é o caso dos índios Zoró, Rikbaktsa, Karajá e os próprios índios Arara, da região Noroeste de Mato Grosso) mas essa ainda não é a realidade da maioria dos povos indígenas de Mato Grosso. As lideranças do Instituto Maiwu acreditam que as comunidades, ao desenvolverem projetos e fortaleçam atividades econômicas terão condições de melhorarem outras áreas como a saúde e a educação.

“Hoje, índio na aldeia ou é professor, ou é agente de saúde ou trabalha com artesanato ou ainda trabalham para fora. Nós queremos alternativas de desenvolvimento econômico para mudar essa realidade para melhor”, finaliza Audecir Arara.

Participantes são de todas as regiões de Mato Grosso

Participam do curso 27 lideranças indígenas escolhidos por suas comunidades e associações. No total, estão representados os seguintes povos: Apiaká, Arara, Bakairi, Bororo, Guató, Chiquitano, Cinta Larga, Ikpeng, Kayabi, Karajá, Panará, Rikbaktsa, Tapajuna, Tapirapé, Umutina, Xavante, Yawalapiti, Zoró.



A cerimônia de abertura na Unemat de Barra do Bugres

A cerimônia de abertura do Curso de Formação de Gestores e Gestoras Indígenas do Mato Grosso aconteceu no dia 11 de janeiro no campus da Unemat em Barra do Bugres,a 173 km de Cuiabá, local da Faculdade Indígena Intercultural da UNEMAT , onde são realizados o Terceiro Grau e a Especialização em Educação Escolar Indígena.

Além dos cursistas e universitários indígenas, estiveram presentes representantes de organizações é órgãos governamentais, além de lideranças indígenas e o secretário de educação do município, Marcos Joel Mafei. Também estiveram presentes, Elias Januário, vice-reitor da Unemat, Fátima Aparecida Rezende, coordenadora da Educação Escolar Indígena de Mato Grosso, Filadelfo de Oliveira Neto, Presidente do Conselho de Educação Escolar Indígena.

Luis Fernando Calomezoré, Cacique da Aldeia Umutina, também esteve na abertura do curso onde um grupo de índios Umutina fizeram uma apresentação cultural, com duas danças: Boiká (dança da Guerra) e Jikirinó (Dança da Andorinha).

Primeiro Módulo tratou da realidade indígena brasileira


Como é a conjuntura atual da realidade indígena brasileira, em especial a de Mato Grosso? Como é a organização do movimento indígena, quais são seus direitos, quais políticas públicas lhes atendem? Qual é o papel das associações indígenas para melhorar essa realidade? Essas e outras perguntas foram o pano de fundo do primeiro módulo do Curso de Formação de Gestores e Gestoras Indígenas do Mato Grosso, realizado na Unemat de Barra do Bugres, realizado entre 11 e 23 de janeiro. A proposta do módulo era refletir sobre a situação dos povos indígenas e suas organizações.
O coordenador pedagógico do curso, José Strabeli, iniciou o módulo com duas perguntas aos participantes: O que é um projeto? e Qual a experiência que você tem sobre projetos? As respostas das perguntas mostraram uma turma eclética, com diferentes níveis de conhecimento mas todos com muito entusiasmo. “Projeto é uma coisa construída pela união de pessoas quês estão sofrendo ou precisando de alguma coisa para resolver o problema dentro da sua comunidade”, respondeu um cursista.

A importância do movimento indígena na elaboração de políticas públicas

Gersem Baniwa foi o palestrante convidado pelo Instituto Maiwu para falar sobre o movimento indígena contemporâneo. Natural do Amazonas e da etnia Baniwa, Gersem é formado em Filosofia e mestre em Antropologia pela Universidade de Brasília. Além disso sua experiência de ter sido secretário municipal da educação e um dos fundadores da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) trouxe bastante riqueza ao debate.

Baniwa explicou que “não existe livro didático nem professor formado para dar aulas de Movimento Indígena” e que é a vivência política e o seu ponto de vista dele que ele expõe e que todos tem o direito de concordar ou discordar. “Sou um militante político. E não se faz política sem posição”, complementou.

Já Francisca Navantino, mais conhecida como Chiquinha Paresí, professora que faz parte do Instituto Maiwu e do Conselho Estadual de Educação Indígena contou sua experiência sobre a participação dos índios no controle social das políticas de Estado. No curso, Chiquinha falou sobre quando a Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) criou um conselho que contemplava a participação indígena, que representou um grande desafio às lideranças indígenas, pois foi visto que era preciso de capacitação para representar um setor tão diverso e rico quanto os indígenas. “A saúde abriu o espaço para surgirem outros conselhos, na área de educação e outros previstos na legislação. Os representantes indígenas nos conselhos precisam estar muito atentos aos problemas de saúde nacionais e principalmente de seu estado ou região”, analisou Francisca.

As aulas tiveram ainda outros instrutores como a professora de Direito Agrário e Ambiental da UNEMAT Sandra Lima, que tratou sobre Direitos Indígenas e Ambientais, o administrador Luís Eustórgio, que mostrou a importância de as comunidades indígenas se organizarem em associações.

Segundo módulo enfocou diagnósticos de projetos


Antes de se pensar em elaborar um projeto é preciso saber delimitar o foco, ou seja, o objetivo do seu trabalho. Para saber delimitar o foco é preciso conhecer sua comunidade. Quanto mais próximo das necessidades e anseios da sua comunidade um projeto estiver mais chances ele terá de ser bem elaborado. Esta foi uma das tônicas do segundo módulo do Curso de Formação de Gestores e Gestoras Indígenas do Mato Grosso, realizado no Centro de Tecnologias Alternativas – CTA, em Pontes e Lacerda, a 450 km de /Cuiabá, entre os dias 14 e 28 de março.
O módulo sobre Diagnóstico geral de projetos foi ministrado pela professora Dagmar Cremer, consultora especialista em Metodologias do Trabalho Comunitário. Dagmar mostrou, por meio de diversas dinâmicas, as principais ferramentas para identificação e análise dos problemas e aspirações das comunidades para a priorização de projetos. Por meio dessas ferramentas os cursistas conseguem detectar em suas comunidades quais são suas potencialidades e quais são os verdadeiros desafios a serem vencidos com um projeto. O módulo mostrou também que existem diferentes oportunidades de captação de recursos, sendo que a elaboração de projetos é apenas uma delas.

Uma das ferramentas exploradas no segundo módulo do curso foi o Diagnóstico Rápido Participativo, também conhecido como DRP, que tem como objetivo de obter rapidamente novas informações e de formular hipóteses sobre a vida das pessoas e da comunidade. Geralmente os Diagnósticos Rápido Participativo são realizados quando há conflitos entre grupos sociais, durante uma pesquisa ou avaliação.

Conheça o Instituto Maiwu

O Instituto Indígena Maiwu de Estudos e Pesquisas de Mato Grosso é uma organização sem fins lucrativos criado em 2005 por lideranças e profissionais indígenas da área da Educação que busca fortalecer os povos indígenas para atuar na elaboração e monitoramento de políticas públicas sob a perspectiva da valorização cultura indígena e da autonomia e melhoria da qualidade de vida dos povos indígenas de Mato Grosso.


Dentre os seus objetivos, o Maiwu apóia o etnodesenvolvimento dos povos e comunidades indígenas ajudando n formação educacional e profissional bem como promovendo o intercâmbio com outras organizações.

A sua criação foi motivada pela necessidade de rearticular o movimento indígena de Mato Grosso, uma vez que o estado é o segundo do Brasil em diversidade étnica, e existem muitos obstáculos a serem superados no que se referem às demandas em comuns. Entre essas demandas estão a necessidade de melhor gestão das associações das comunidades, além de melhorias na Educação e maior participação na formulação e acompanhamento de políticas públicas.

O Maiwu é membro do Conselho de Educação Escolar Indígena do Mato Grosso e filiado ao Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Formad). Além disso, desde 2007 coordena e desenvolve o projeto HAIYÔ de Formação de Professores para o Magistério Intercultural em parceria com Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (SEDUC).

Desde 2008 o Instituto também trabalha na mobilização e capacitação dos indígenas em relação às questões socioambientais, culturais, educacionais e econômicas que impactam as comunidades indígenas em Mato Grosso, especialmente na discussão do Zoneamento Socioeconômico e Ecológico de Mato Grosso (ZSEE/MT) e da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental das Terras Indígenas - PNGATI.